A colher de pau

A Colher de Pau
   A escultura em madeira tem duas vertentes: a artística e a utilitária. 
 
   Arte é uma forma de comunicação humana riquíssima, sem qualquer pretensão de resolver um problema concreto no cotidiano humano; já a vertente utilitária pretende que o objeto escultórico tenha aplicação direta para resolver reclamos, como um objeto de cultura material de uso. 
 
   A colher de pau é objeto escultórico de vertente utilitária dos mais clássicos que existe. 
 
   E o melhor… É um objeto iniciático na escultura em geral. A fabricação de colheres é um exercício que vai te levar longe para realizar qualquer escultura em madeira, até mesmo as de cunho artístico. 
 
   Vamos aqui apresentar – com brevidade – a execução de uma colher de pau, para te inspirar a fazer uma você mesmo. 
 
   Como já temos alguma experiência no fabrico deste artefato, iniciamos a tarefa sem qualquer esboço ou projeto. Apenas decidimos que teríamos duas madeiras diferentes: uma na concha e outra no cabo. E que a forma seria intuída de momento, quase como uma captação –  com a vênia do demiurgo – no mundo das ideias platônico. 
 
   Nós escolhemos a madeira de Jacarandá Violeta (Dalbergia cearenses) e Peroba de Campos (Paratecoma peroba). Ambas são madeiras duras e difíceis de esculpir com ferramentas manuais. No entanto, têm beleza ímpar e dão ótimo acabamento. 
 
   Nós começamos aparelhando um topo de um cavaco de jacarandá violeta que salvamos de uma caçamba:

   Essa tarefa é essencial, pois precisamos de uma superfície plana e esquadrejada para realizar as lavras do encaixe.

   Feitas as marcações, começamos a realizar o desbaste com um formão. A união escolhida foi a junção de meia-madeira. Na madeira do cabo fizemos uma lavra rebaixada correspondente e aplicamos cola Titebond 3, excelente para objetos que vão entrar em contato com alimentos e submersos em água, inclusive quente.

   Com o encaixe realizado e devidamente colado, ensaiamos o lápis à mão livre na madeira, plasmando os contornos da concha e do cabo, fazendo juízo de proporção, harmonia e fluidez de maneira bem intuitiva. Acredite… todo ser humano tem estes juízos extremamente “afiados”; apenas não confia neles conscientemente. 
 
   A primeira coisa que devemos fazer é a cava da concha. Como toda a madeira está ainda esquadrejada, é fácil manter o conjunto firmemente preso à bancada para ser percutido com formão, goivas e ferramentas especiais para lavra de colheres. Por isso esse é o primeiro passo: o desbaste côncavo da concha. E para tal, utilizamos goivas de perfil aberto de diferentes larguras e também um gancho especial, chamado de Hook knife (faca gancho) e uma outra chamada spoon gouge (goivas para colheres) . 
   Com a concavidade da concha executada, fizemos os contornos externos da colher na serra de fita. Como as madeiras são duras, essa atividade na serra de fita é bastante proveitosa, pois nos livra de precioso tempo na retirada de material que não faz parte da colher. Você pode retirar esse excesso com ferramentas manuais também: formões, machadinhas e faca de tanoeiro.  
 
   Lembre-se que a atividade escultórica exige um pensamento de libertação. A colher já está ali dentro do bloco… você precisa se concentrar no que não é a colher e passo a passo ir libertando a peça. O escultor não faz uma colher, apenas a liberta do bloco bruto. Ela já está nele, encerrada lá pela sua mente. 
 
   Com a parte mais bruta retirada, passamos à deliciosa escultura com facas. A faca é a mais ancestral ferramenta de corte. Acredite-me…. as tuas mãos sabem como trabalhar com elas, de modo que pouca orientação técnica você precisa para ir bem. Se você tem habilidade para descascar uma laranja, você tem condições de manejar facas para esculpir. 
 
   No entanto, esteja sempre atendo ao movimento que você vai realizar, para não ter dedos ou pessoas à frente. Considere sempre, que ao cortar as fibras da madeira, a força aplicada se encontra livre e sem resistência, projetando a aresta de corte em direções que podem causar lesões graves. Com cuidado, atenção e alguma necessária experiência prática, você vai ser capaz de chegar a um resultado justo. 
 
   Depois de assentadas a forma completa na faca, passamos à atividade de lixamento. É nesta fase que retiramos todas as arestas e marcas das ferramentas de corte aplicadas. 

   Realizamos o acabamento com cera natural do Leonardo Afonso, um produto de extrema qualidade, que pode ser usado em objetos que vão ter contato com alimentos. É atóxica e possui um cheiro delicioso.

   Espero que você se sinta inspirado em iniciar sem primeiro projeto de colher.

   Vinícius Carvas.

Calendário de Cursos

Março

16 e 17 - Introdução ao estudo da marcenaria e afiação de ferramentas

30 e 31 - Teoria geral dos Encaixes de madeira

Abril

13 e 14 - aplainamento – plainas manuais, desempenadeira e desengrossadeira.

27 e 28 - Serra elétricas estacionárias: serra circular e serra de fita: tipos, evolução, segurança, operação, gabaritos etc.

Maio

18 e 19 - Cadernos de Madeira – Professora Alice Alfano - Ateliê da Mata

25 e 26 - Marcenaria moderna de gabinetes (MDF). Professor Hermes

Junho

8 e 9 - Introdução ao estudo da marcenaria e afiação de ferramentas

22 e 23 - Workshop do candelabro woodsmith

Julho

13 e 14 - Tornearia de cumbucas com professor Thomaz Brasil – Madeira que Gira

20 e 21 - aplainamento – plainas manuais, desempenadeira e desengrossadeira.

Agosto

10 e 11 - Teoria geral dos Encaixes de madeira

24 e 25 - Serra elétricas estacionárias: serra circular e serra de fita: tipos, evolução, segurança, operação, gabaritos etc.

Setembro

14 e 15 - Workshop de garrafas torneadas com professor Thomaz Brasil – Madeira que Gira

21 e 22 - Teoria geral dos gabinetes. Professor Aluizio Tomazeli.

Outubro

12 e 13 - Introdução ao estudo da marcenaria e afiação de ferramentas

26 e 27 - Workshop de mesa de centro

Novembro

16 e 17 - curso de acabamento em madeira

23 e 24 - Serra elétricas estacionárias: serra circular e serra de fita: tipos, evolução, segurança, operação, gabaritos etc.

Dezembro

7 e 8 - Workshop de candelabro Woodsmith